quarta-feira, dezembro 28, 2005

Só Fullana

Sonhei com você. E não foi um sonho qualquer. E não estavas nua.
Senti a tua pele macia no contato com a minha equilibrando a temperatura distinta de nossos corpos. Mas temperatura faz pouca diferença em sonhos e as imagens exibidas na mente como num drive-in, com suas proporções mais que reais, fazem-nos esquecer outras sensações.
No sonho, dirijo meu carro. A velocidade não é grande, eu sei que não é. Em sonhos as velocidades não são reais e eu, ao volante, dirijo calmamente.
Não olho a paisagem nem olho você, apenas sinto você. Minha visão fixa-se mecanicamente à frente. Os reflexos são mínimos, indispensáveis apenas à condução do veículo.
Uma das minhas mãos segura o volante com tranqüilidade e segurança. A outra, diverte-se nos seus cabelos macios, em carícias na sua cabeça que se movimenta suavemente debruçada sobre meu colo. E não se passaram dois quilômetros.
A velocidade continua a mesma, constante, mas meu coração já não bate no ritmo anterior. Acelerado, bombeia um sangue já impregnado pelo perfume que a sua boca e seu rosto espalharam pelo meu sexo.
Indiferente a percursos ou quilometragens, e já se vão dez quilômetros, você saboreia cada curva de minha anatomia masculina. Desliga-se do trajeto para dedicar-se inteira a um prazer onde não existe atividade ou passividade. Divertem-se numa hipnose mútua, meu falo e tua boca.
Numa explosão de prazer em comum, ouço buzinas e seus gemidos. O sinal abre e, depois de quarenta quilômetros, estamos na esquina do nosso destino. Maldita velocidade dos sonhos.
Você me beija e despede-se.
Acordo tentando uma última carícia, mas Fullana já se foi. Ella é assim mesmo, intensa e fugaz. Fico sentado no banco, ainda sentindo meu sexo inteiro na sua boca, sem distinguir ao certo a realidade.
Só Fullana...

Aos Amigos e a quem mais lê este blog

Com esse texto despeço-me de vocês em 2005. Termino com a mesma personagem que iniciei. Texto a altura de Fullana, uma mulher especial, intensa, que às vezes escapa da ficção para a realidade ou vice-versa.
Nesse trânsito entre ficção e realidade caminhamos por 2005. Nessa mesma expectativa entraremos em 2006, mas sem deixarmos de sonhar.
Um abraço especial à Márcia (Clarinha), Grimble, Ordisi, Margarida (Despenteada Mental), Abud, Branco Leone, Nina, Regina, Marcio, Lilith (Guida), Ana, Rosa Pena e outros não menos queridos, todos ficcionistas e realistas.
Um desejo de felicidade e um abraço a todos os que lêem este blog.
Um beijo a Fullana, já que a ficção me permite.
UMZE

terça-feira, dezembro 20, 2005

Festas, Mistérios e Maria

Saiu do trabalho aborrecido. Aliás, já andava aborrecido há tempos. Sem motivos aparentes, objetivos.
Caminhou até o elevador sem saber ao certo o que fazer naquele dia. O silêncio dos corredores apontava para o óbvio: todos foram à festa. E ele ficou pensando nisso.
O que eu vou fazer nessa festa? Não estou para festas, não gosto de festas. Mentira. Pura mentira. Sempre gostara de festas, de sambas, de cervejas e mulheres. Bonitas. Houve um tempo em que achava todas as mulheres bonitas.
De uns tempos para cá tinha mudado. Não deixara de gostar, mas andava indiferente a tudo, quieto até demais.
No elevador encontrou Maria. Vestido preto, um belo decote, ombros de fora e sem os óculos. Olhos pintados e boca também. Ela tomou a iniciativa. Não vai à festa? Claro, vou sim, respondeu tentando demonstrar uma animação que andava distante. Nos vemos lá, despediram-se.
Foi à festa. Não perderia nada, tomaria uma cerveja, conversaria com os amigos e voltaria para casa o mesmo de antes. Indiferente.
E era uma bela festa de Natal com presentes, bebida, comida e música. Todos animados, com desejos mútuos de felicidades, tapinhas e sorrisos.
Encontrou os amigos, sorriu e bebeu vodca com gelo. Relembrou velhos tempos e teve vontade de dançar.
E dançou muito, como há muito não dançava. E dançou mais. E encontrou Maria. Olharam-se com mais freqüência e sorriram também. Dançaram juntos e beberam. Ele vodca, ela água.
Não viu a noite passar, mas chegou o fim da festa. Saiu junto com Maria e conversaram animadamente.
Despediram-se com uma troca de beijos protocolares. Antes do último, as bocas, muito próximas, se tocaram num delicioso beijo. Daqueles que as línguas e lábios se entregam sem deixar espaços a protocolos. Íntimos.
Beijos são tudo. Quando as bocas não se acertam, nada mais pode dar certo.
Num desses mistérios do natal, não voltou para casa o mesmo de antes. Voltou diferente e com o delicioso gosto de Maria na boca, que ficou por muitos dias. Sentiu-se menino num natal qualquer, mas com Maria.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Brilho e Magia

Quando menino, nessa época do ano, era sempre o mesmo ritual. Vai na farmácia comprar um pacote grande de algodão, mandava minha mãe. Eu saía sem reclamar e correndo. Voltava rápido com o pacote na mão. A ansiedade durava todo o dia. Só à tardinha, quando meu pai chegava do trabalho, íamos, eu e ele, procurar por um galho de árvore na rua. Escolhíamos cuidadosamente, afinal era um momento mágico e solene. Eram os preparativos para o natal. Escolhido o galho em qualquer canto ou quintal voltávamos para casa. Meu pai incumbia-se de pregar o galho numa base de madeira que foi usada vários natais. Daí, a família partia para cobrir todo o galho, nossa árvore, enrolando o algodão. Não ficava aparecendo nenhum pedacinho sem algodão. Tudo branquinho.
Depois, colocávamos as mesmas bolas de vidro pintado e brilhante de muitos anos e as lâmpadas coloridas. Pronto, tinha chegado o natal!
A partir daí era esperar a noite do dia vinte e quatro de dezembro, colocar o sapato, um pratinho com rabanadas e pernil (porque papai noel adora rabanadas e pernil, ensinava meu pai.) e dormir ansioso para ver o presente deixado pelo meu bom velhinho.
Nunca exigi presentes. Escrevia cartinhas com pedidos infantis e comuns. Papai Noel sempre me trouxe o possível. Assim ganhei bolas e carrinhos. Ganhei minha primeira bicicleta, vermelha. E também minha primeira guitarra. Vermelha. A bicicleta se perdeu, mas a guitarra eu tenho até hoje. Guardo como uma prova de que Papai Noel existe.
Uma coisa que sempre surpreendeu a todos foi eu não saber quem é Papai Noel. Os amigos me diziam que era meu pai e caçoavam da minha ignorância. Mas eu não era ignorante, eu simplesmente acreditei no meu pai toda a nossa vida. Todas as vezes que eu perguntei a ele quem era Papai Noel recebi outra pergunta como resposta:
- Que você acha? Eu tenho cara de Papai Noel? – e sorria.
Eu dizia que sim, mas ele apenas sorria. Sorriu por mais de quarenta natais com um brilho no olhar que sempre me encantou. Sem perceber, passei a reconhecer nesse brilho o melhor do natal.
O tempo passou. Hoje já não cato galhos na rua para fazer árvores de natal e também não coloco meu sapato para esperar um presente. Mas me surpreendo com a força do meu Papai Noel quando vejo meus filhos, já homens, vindo a minha casa colocar seus enormes sapatos e pratinhos com rabanadas.
A pergunta é sempre a mesma, que repito:
- Mas.... eu tenho cara de Papai Noel?
No dia seguinte encontram presentes que nunca foram pedidos.
E aquele mesmo brilho reaparece no olhar de todos, dispensando qualquer resposta.
Sorrimos numa cumplicidade que torna qualquer presente secundário. É a magia do meu natal, impregnada no tempo por um inesquecível e adorável papai que sempre esteve por perto. O meu papai. Noel
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