terça-feira, fevereiro 06, 2007

O Antes e o Tudo

Antes de vestir-se beijou-o com doçura. Doçura tranqüila que só os saciados conhecem mas que para ela era nova.
Antes de beijá-lo, sentiu conforto em descansar o corpo suado encostado ao dele, calmo e quente como colo. Descansou sentindo carícias nos cabelos desarrumados e já impregnados pelas mãos daquele homem.
Antes de descansar, sentiu o corpo voltar a tremer numa convulsão de prazeres múltiplos. Imersa num universo único, entregou-se sem controles ou pudores, gritou o nome dele, arremessou travesseiros e rasgou lençóis num gozo sem fim, sentindo-o dentro de si em movimentos másculos e carinhosos.
Antes disso, num prazer sem começo delimitado, sentiu aquelas mãos pegarem-na pelos cabelos como nunca. Carícias e domínios. Mãos anteriores pareceram pequenas, definitivamente insípidas. Seu pescoço, levado à boca, experimentou-lhe os dentes, a língua e, tão próximo do ouvido, sua rouca voz, enquanto fluidos lubrificavam-lhe até à alma.
Antes mesmo do primeiro prazer, um tremor tomou-lhe o corpo quando sentiu o falo em sua delicada mão. Passou-o pelos seios até alcançá-lo com os lábios. Sua admiração pela anatomia masculina aflorou e perdeu-se no tempo entre olhares, sabores e movimentos que já não precisavam ter fim. Anatomias anteriores pareceram frágeis.
Antes de tudo, beijou-o com desejo num convite explícito ao prazer. Despiram-se enquanto ele dizia o que ela queria ouvir, despudoradamente, desejando-a como ela pretendera ser desejada, sem pecados, na plenitude do prazer.
Uma vez vestida e depois de tudo, despediu-se desejando a eternidade, num tempo que pareceu breve e que podia nunca acabar até, quem sabe, vir o amor.
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