sexta-feira, junho 16, 2006

Só Fullana Salva a Copa dos Ignorantes

Os dois meninos conversavam animadamente sobre a seleção brasileira. Ele ali, prestando atenção na conversa, numa absoluta indiscrição e falta de algo melhor para fazer naquele metrô cheio.
- Tu “viu” na hora do hino?
- Hino?
- É. O “ouvirundu”. Aí, todo mundo sério. Só uns cantaram.
- Vi sim. Deu até uma coisa. Domingo tem mais. – Esfregaram as mãos e riram a valer.
Desceram numa estação qualquer e ele ficou ali, pensando no tal “ouvirundu” e nos meninos. Pareciam de classe média e com alguma coisa em torno dos quinze anos. Voltavam da escola. Êpa! Escola? Novamente o “ouvirundu” que, por um processo meramente sonoro e pela menção da palavra hino no conversa, associou ao hino nacional brasileiro. Certamente o nomezinho estranho deveria ser uma corruptela do primeiro verso do hino: Ouviram do Ipiranga...(o Ipiranga? Talvez não soubessem que existe...). Santa ignorância.
Com uma certa nostalgia, lembrou-se que aprendeu o hino nacional na fila da escola cantando enquanto hasteavam a bandeira. Naquela época não sabia direito o que cantava. Aliás, ainda hoje precisa do Aurélio. Mas era uma melodia que o emocionava.
Chegou no trabalho e o tema era... isso mesmo: Seleção Brasileira, ou melhor, Ronaldo.
Ronaldo está gordo, Ronaldo não jogou nada, Ronaldo está com problemas psicológicos, chamaram até o pobre (pobre ele não é, eu sei.) do Ronaldo de corno e por isso não estava jogando nada.
Isso tudo com o Brasil ganhando, imaginem se ele perdesse.
Para tumultuar ainda mais o dia apareceram aqueles que sempre esbravejam contra a falta de produção, fingindo que não são torcedores.
- Não é possível, ninguém trabalha. É o ópio do povo. Enquanto durar a copa vão ficar roubando o país. Sempre foi assim. O povo é ignorante...
Pensou nos bons tempos aqueles em que imaginavam que roubavam o país só durante a copa do mundo. Santa ingenuidade a nossa. Aliás, achava mesmo que até os ladrões paravam de roubar durante os jogos do Brasil. Restou a dúvida.
Entre ingenuidades e ignorâncias, para sua desolação, o dia transcorreu com pouca criatividade. Um dia de um a zero, igual ao joguinho do Brasil.
Sem esperanças de qualquer melhora, ouve o telefone tocar no final da tarde.
Atende. É Fullana, com sua voz rouca.
- Estou te esperando com uma surpresa, meu querido. Não demora, tá?
Obedeceu.
Chegou e encontrou-a com uma calcinha verde e amarela tamanho m, de mínimo, com o número nove no bumbum. Sandálias azuis e... mais nada.
Santa visão do paraíso.
Antes mesmo do “ouvirundu”, ou melhor, do hino, foram ao jogo nas quatro linhas do colchão.
O futebol é uma instituição nacional, e essa partida Fullana ganhou de seis a zero, pensou.
Brasiiiiiil!
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