quinta-feira, dezembro 08, 2005

Brilho e Magia

Quando menino, nessa época do ano, era sempre o mesmo ritual. Vai na farmácia comprar um pacote grande de algodão, mandava minha mãe. Eu saía sem reclamar e correndo. Voltava rápido com o pacote na mão. A ansiedade durava todo o dia. Só à tardinha, quando meu pai chegava do trabalho, íamos, eu e ele, procurar por um galho de árvore na rua. Escolhíamos cuidadosamente, afinal era um momento mágico e solene. Eram os preparativos para o natal. Escolhido o galho em qualquer canto ou quintal voltávamos para casa. Meu pai incumbia-se de pregar o galho numa base de madeira que foi usada vários natais. Daí, a família partia para cobrir todo o galho, nossa árvore, enrolando o algodão. Não ficava aparecendo nenhum pedacinho sem algodão. Tudo branquinho.
Depois, colocávamos as mesmas bolas de vidro pintado e brilhante de muitos anos e as lâmpadas coloridas. Pronto, tinha chegado o natal!
A partir daí era esperar a noite do dia vinte e quatro de dezembro, colocar o sapato, um pratinho com rabanadas e pernil (porque papai noel adora rabanadas e pernil, ensinava meu pai.) e dormir ansioso para ver o presente deixado pelo meu bom velhinho.
Nunca exigi presentes. Escrevia cartinhas com pedidos infantis e comuns. Papai Noel sempre me trouxe o possível. Assim ganhei bolas e carrinhos. Ganhei minha primeira bicicleta, vermelha. E também minha primeira guitarra. Vermelha. A bicicleta se perdeu, mas a guitarra eu tenho até hoje. Guardo como uma prova de que Papai Noel existe.
Uma coisa que sempre surpreendeu a todos foi eu não saber quem é Papai Noel. Os amigos me diziam que era meu pai e caçoavam da minha ignorância. Mas eu não era ignorante, eu simplesmente acreditei no meu pai toda a nossa vida. Todas as vezes que eu perguntei a ele quem era Papai Noel recebi outra pergunta como resposta:
- Que você acha? Eu tenho cara de Papai Noel? – e sorria.
Eu dizia que sim, mas ele apenas sorria. Sorriu por mais de quarenta natais com um brilho no olhar que sempre me encantou. Sem perceber, passei a reconhecer nesse brilho o melhor do natal.
O tempo passou. Hoje já não cato galhos na rua para fazer árvores de natal e também não coloco meu sapato para esperar um presente. Mas me surpreendo com a força do meu Papai Noel quando vejo meus filhos, já homens, vindo a minha casa colocar seus enormes sapatos e pratinhos com rabanadas.
A pergunta é sempre a mesma, que repito:
- Mas.... eu tenho cara de Papai Noel?
No dia seguinte encontram presentes que nunca foram pedidos.
E aquele mesmo brilho reaparece no olhar de todos, dispensando qualquer resposta.
Sorrimos numa cumplicidade que torna qualquer presente secundário. É a magia do meu natal, impregnada no tempo por um inesquecível e adorável papai que sempre esteve por perto. O meu papai. Noel
eXTReMe Tracker