sexta-feira, outubro 14, 2005

Anatomia de Fullana, O Peito

Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando, entre maldições e preces,
Como se a arder no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano.

Pobre, no bem como no mal padeces;
E rolando mum vórtice insano,
Oscilas entre a crença e o desengano,
Entre esperanças e desinteresses.

Capaz de horrores e de ações sublimes,
Não ficas com as virtudes satisfeito,
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes.

E no perpétuo ideal que te devora,
Residem juntamente no teu peito
Um demônio que ruge e um deus que chora.

Essa jóia não é minha. Seu título é Dualismo, foi escrita por Olavo Bilac e publicada no livro Tarde em 1919. Isso mesmo, há quase cem anos. Um dos textos mais fortes e humanos que já li e belo, muito.
Apesar de impregnada em minha alma, somente Bilac conseguiu definir tão bem um lado oculto de Fullana, o peito. O abrigo, em seu tórax, de suas angústias e outros sentimentos não menos humanos que às vezes lhe fazem perder o brilho.
Entre a luz da vida a irradiar oportunidades e os recantos da sua alma, o peito, dualista, permanece promovendo eclipses em seus sentimentos.
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