sexta-feira, setembro 02, 2005

Anatomia de Fullana, Os Pés

Na vitrine os pequenos refletores voltavam-se para uma peça única. Em metal brilhante, a jóia descansa sob um pedestal acetinado. Na displicência da beleza incomparável, se oferece num adorno de rubis que interagem em simbiose de brilhos e glamour. Uma jóia branca e vermelha.
Num flash viajo aos pés de Fullana. Exibidos em sandálias que os expunham como aqueles pedestais da joalheria. Lindos e delicados pés, brancos como o ouro daquela jóia que não ousava competir com eles. Igualmente adornados, numa variação criadora digna dos mais audaciosos fetiches. Uma hora com unhas rosas qual turmalinas, outras esverdeadas como esmeraldas, ou negras, desafiadoras, poderosamente arrebatadoras.
Vejo esses pés firmes atravessando ruas ou dançando em salões, na condução dos meus, menos hábeis nessa arte. É verdade que nossos passos nunca seguiriam um caminho único. Às vezes corriam em direções opostas. Em outras caminhavam em paralelos que, independente da velocidade, nunca se encontrariam. Mas esses lindos pés já se aproximaram de tal forma dos meus que muitas vezes confundiram-se em carícias mutuamente submissas.
Na vitrine da minha lembrança, os pés de Fullana descansam sobre os lençóis após o amor, transfigurados numa jóia de ouro branco adornada por unhas tingidas de rubi que já passearam por meu corpo.
Esses pés que tanto beijei. E que beijo, neste momento.
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