terça-feira, janeiro 29, 2008

Malícia das Mulheres

Fullana chegou apressada e com a intimidade sedutora que já dispunha com o comerciante disparou:
- Meu amor, você tem carne de cabra?
Com aquele “meu amor” o açougueiro arranjaria a carne da tal cabra de qualquer forma e não foi diferente. Mais tarde mandou entregar o corte solicitado na residência da sua cliente especial.
De posse do corte, postou-se na cozinha, sacou sua faca mais afiada e fatiou com carinho. Pegou os escalopes com suas leves mãos reservando-os em um prato branco. Um fio de sangue escorreu entre os finos dedos e acelerou pelo antebraço num prenúncio estranho. Fullana não se incomodou. Limpou-se primeiro com a língua e depois com um pano de prato.
De um recipiente coberto com um pano branco retirou algumas folhas que haviam adormecido no sereno de uma lua minguante e já estavam devidamente secas. Piper Capense, Dendezeiro e apenas uma folha de Mimosa Pudica também conhecida como Malícia-das-Mulheres, a cara de Fullana, ingrediente fundamental na receita que recomendava cinco folhas. Triturou pacientemente as folhas ao som do Prelúdio nr. 10 em Mi menor de Bach. Colocou seu axé e sem pressa peneirou-as para aproveitar o pó mais fino. Delicada, como sempre.
Esperou pacientemente seu querido chegar e beijou-o calorosamente sem antes desconfiar do novo aroma que trazia. Sem comentários e com a mesma aparente displicência de sempre temperou a carne com sal, um pouco de dendê e o pó. Fritou-a em deliciosos e suculentos bifinhos. Serviu quente, com outras folhas menos suspeitas, para deleite do seu amado. Recebeu elogios pela iguaria exótica.
- Você faz mágicas na cozinha, parece uma bruxa que só faz coisas boas.
Fullana presenteou-o com seu sorriso leve e desconcertante enquanto seus olhos brilhavam num convite ao amor. Amaram-se e dormiram.
Pelo meio-dia Fullana raspa as pernas com a tranquilidade de um personagem de Grimble, sentada num banco da varanda, enquanto ouve seu companheiro dissolver-se em vômitos no banheiro. Era apenas o começo de uma longa semana onde a cena se repetiria muitas vezes levando-o a um quadro digno de pena. Perdeu peso, só bebeu líquidos e teve vontade de morrer, naqueles dramas que só os homens sabem fazer quando estão mal.
Após o sétimo dia sente-se melhor, bem melhor, embora enfraquecido. Fullana afaga-lhe a cabeça e sussurra como a um neném:
- Não vai trabalhar, meu querido?
- Estou melhor, mas não sei se estou em condições.
- Pode ir tranqüilo, já passou.
- Como você pode saber?
- Dessa vez te botei para vomitar uma semana, da próxima vez que você aceitar jantar a negócios com aquela bandida do escritório vai vomitar o resto da vida, até morrer.
No armário assegurou-se de que o livro de receitas africanas estava guardado em segurança. O marcador delimitava a página com o título “Receita para Homem Enjoar de Mulher”. Ela não teve coragem desta vez e usou apenas parte da receita. Mas só desta vez.
Beijou-o na teste a saiu para sua caminhada matinal sem nenhum remorso.

quinta-feira, abril 19, 2007

Suzi, o Preto e o Vermelho

Suzi é uma menina levada, falante e alegre! Bonita, tem nome de boneca e alma de personagem de fábulas. Suzi é vibrante nas defesas de suas paixões, embora defesas de paixões exijam um certo grau de ..., digamos, paixão.
Suzi é rubro-negra. Torcedora apaixonada do Flamengo. Tem defeitos, é certo.
Sempre, na defesa apaixonada do seu clube de coração, enaltece os títulos conquistados e demonstra sua confiança em novas vitórias.
Lembranças de Suzi ocorreram recentemente quando recebi uma pesquisa que, a partir dos resultados, me surpreendeu no que se referia à quantidade de títulos que o clube do coração de Suzi possuia. Possivelmente um dos clubes que mais possui títulos no mundo.
Segundo a pesquisa, restrita a títulos no território nacional, o Flamengo teria 4 títulos nacionais, 28 títulos cariocas, 5.244 títulos protestados na Justiça Civil, 1.657 títulos protestados na Justiça Federal e 14.643 títulos protestados nos Cartórios de Títulos e Documentos. Alguma coisa perto de 21.000 títulos, fora SPC, SERASA, etc... Um campeão!
Imaginei que, na vibração de sua defesa, poderia Suzi contestar os números com argumentações jurídicas muito justas ante a sua evidente competência. Não caberia ao autor contendas, por entender as defesas apaixonadas às quais a alma humana é capaz de entregar-se.
Suzi não gosta de ocupar o coração com coisas pesadas. Sua alma é leve e saberá manter seu coração em preto e vermelho. Mesmo nas derrotas.

segunda-feira, abril 09, 2007

Por onde anda...

Alguns leitores fiéis têm me perguntado sobre Fullana Maria.
Fullana é fascinante porém volátil.
Desde sua última aparição, o que sei é que alguns textos e a própria Fullana estão guardados em uma gaveta, no Cemitário do Cajú.
Mortum est?

domingo, abril 01, 2007

Primeiro de Abril

Não! Não é coisa de Primeiro de Abril, o nosso(?) Ministro do Trabalho afirmar que "ninguém encontrou nada que agredisse a minha honra... Não sou corno e não tenho paixão por pessoa do mesmo sexo". Pois é, não bastasse a luta dos homosexuais contra a discriminação, agora os pobres cornos terão que levantar bandeiras, sairem no covarde anonimato e lutarem para mostrarem-se honrados. Ingrata essa situação dos cornos, que foram classificados nessa categoria por atos de terceiros, seus parceiros, e por vezes independente de vontade própria. Tanto homosexuais quanto cornos parecem cidadãos rebaixados uma segunda categoria por terem a honra agredida, segundo o Governo.

Não! Não é coisa de Primeiro de Abril, a nossa Ministra da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Social, olhem bem o nome da Secretaria, ter afirmado que "não é racismo quando um negro se insurge contra um branco". Falou ainda e açoitamento e escravidão. Qual será a promoção de igualdade racial que pretende a ministra (com "m" mesmo)? Será que pretende colocar brancos no tronco como meio de solução? Será que pretende transformar Joinville numa grande senzala? Tudo institucionalizado pelo Governo. Quanta ignorância e preconceito! Não é de se esperar que, a partir de citações como essa, existam perspectivas de soluções ao assunto vindas dessa secretaria ou de qualquer outra.

Não! Não é coisa de Primeiro de Abril que este Umzé voltou a escrever e irá manter este blog. Sim, é verdade! Acreditem! Não sou ministro. Não é coisa do dia da mentira.

Quanto aos amigos homosexuais, posso ser solidário quanto à honra. Sou negro, branco e índio porque sou brasileiro, nunca açoitei ninguém (erotismos à parte), já fui corno e minha honra vai muito bem, obrigado.
Quanto aos ministros, bem, eles são o próprio primeiro de abril.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

O Antes e o Tudo

Antes de vestir-se beijou-o com doçura. Doçura tranqüila que só os saciados conhecem mas que para ela era nova.
Antes de beijá-lo, sentiu conforto em descansar o corpo suado encostado ao dele, calmo e quente como colo. Descansou sentindo carícias nos cabelos desarrumados e já impregnados pelas mãos daquele homem.
Antes de descansar, sentiu o corpo voltar a tremer numa convulsão de prazeres múltiplos. Imersa num universo único, entregou-se sem controles ou pudores, gritou o nome dele, arremessou travesseiros e rasgou lençóis num gozo sem fim, sentindo-o dentro de si em movimentos másculos e carinhosos.
Antes disso, num prazer sem começo delimitado, sentiu aquelas mãos pegarem-na pelos cabelos como nunca. Carícias e domínios. Mãos anteriores pareceram pequenas, definitivamente insípidas. Seu pescoço, levado à boca, experimentou-lhe os dentes, a língua e, tão próximo do ouvido, sua rouca voz, enquanto fluidos lubrificavam-lhe até à alma.
Antes mesmo do primeiro prazer, um tremor tomou-lhe o corpo quando sentiu o falo em sua delicada mão. Passou-o pelos seios até alcançá-lo com os lábios. Sua admiração pela anatomia masculina aflorou e perdeu-se no tempo entre olhares, sabores e movimentos que já não precisavam ter fim. Anatomias anteriores pareceram frágeis.
Antes de tudo, beijou-o com desejo num convite explícito ao prazer. Despiram-se enquanto ele dizia o que ela queria ouvir, despudoradamente, desejando-a como ela pretendera ser desejada, sem pecados, na plenitude do prazer.
Uma vez vestida e depois de tudo, despediu-se desejando a eternidade, num tempo que pareceu breve e que podia nunca acabar até, quem sabe, vir o amor.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Versos que valem tudo

Um pobre amador. Um aprendiz do seu amor...
Tom Jobim
Eu sei que vou te amar, por toda a minha vida...
No mesmo Tom

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Cinco Palavras

Ainda sobre o tema palavras, recentemente li um texto do Luiz Caversan, na Folha, no qual comentava sobre a mesmice nos cumprimentos de Ano Novo. No mesmo texto ele sugeria 20 palavras que deveriam estar presentes nos desejos para o ano de 2007.
As palavras são as seguintes:

Compostura
Paz
Foco
Respeito
Fidelidade
Observação
Amabilidade
Clareza
Desejo
Acuidade
Felicidade
Determinação
Serenidade
Aceitação
Resistência
Coragem
Amor
Sonho
Realidade
Generosidade

São muitas? Então combinemos só cinco e tentemos fazê-las presentes no nosso ano de 2007. Se conseguirmos, acho que em 31 de dezembro de 2007 estaremos sentindo saudades do ano velho.
Vamos em frente!
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