sexta-feira, junho 10, 2005

Namorados, Alegria e Sorvetes

Caminhava pelo corredor do Shopping entre balões em forma de coração. Rubros como a paixão, pensava. Em alguns cartazes estava escrita uma data, doze de junho. Me dei conta de que estava chegando o dia dos namorados. O comércio faz de tudo para vender, pensei novamente. Tolice minha, só se vende aquilo que alguém queira comprar. É uma lei. Oferta e procura.
Numa curiosidade observei que as lojas tinham um certo movimento de pessoas. Comprando presentes para seus namorados, imaginei. São muitos namorados e namoradas investindo em algo que passa despercebido aos vendedores e a nós, pobres consumidores, durante todo o ano. Não vem embrulhado em papel bonito e brilhante. Não tem tamanho definido. Tem sempre um valor proporcional à intensidade do desejo de sentir-se feliz. Investem.
Eles investem no amor. Amor que se materializa em presentes, cartões, beijos, abraços, olhares, risos, promessas e, às vezes, fracassos.
Mesmo sabendo que podem fracassar, investem sem balanços de perdas e ganhos. Querem amar.
Quem ama muito, investe muito, é feliz muito, tudo muito, inclusive pode perder muito. Mas quem quer pensar em perder quando ama? Ah, quando se ama nunca se perde. Amorável ingenuidade.
Namorados amam e são alegres, riem de tudo. O amor é alegre.
Enquanto comprava um sorvete, olhava, sentados num banco, o casal de namorados que ria animadamente, interminavelmente. Dava vontade de rir junto sem mesmo saber o porquê. O amor contagia.
Uma mulher observava ao lado. Não se contém.
- Minha filha, cutucou a menina, você ri tanto, não cansa? Você deve ser muito feliz, não? Irritou-se.
A menina silenciou olhando para a mulher, olhou para o namorado, riram juntos novamente, levantaram e sairam rindo, claro.
A mulher, que talvez esquecera a juventude do amor, ficou olhando, sem resposta. Talvez só lembrasse dos fracassos. Talvez deixado a felicidade escapar. Talvez desistido de investir num novo ou velho amor. Estava imunizada.
Peguei o meu sorvete, lembrei da criatura amada, sorri com os meninos e o lambi deliciosamente, lentamente, saborosamente. Passei aquele sorvete pela boca, mordendo-o delicadamente, beijando-o discretamente, em público. Era Ela, sempre Ela.
Terminei sorrindo, lunatizado, sob olhares estranhos, insistindo em amar sem medo de investir. Alegre contágio.
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