segunda-feira, abril 11, 2005

Aplausos

Naquela dia especial, pegou um táxi para ir ao trabalho. Atrasada, pediu ao motorista que se apressasse um pouco, explicando-lhe o motivo. Foi prontamente atendida. Pedido com tamanha doçura não merecia contestação.
Ao chegar, verifica no taxímetro o valor e oferece o dinheiro ao condutor. Sua mão delicada fica estendida no ar. O motorista recusa o pagamento:
- A senhora me deu o prazer de sua presença no meu táxi. Não tenho como cobrá-la.
Ela sorri, agradece e segue ao trabalho. Não era a primeira vez.
Atravessava aquela praça diariamente no trajeto entre a rua e o local de trabalho. Junto à calçada, aquela habitual fila de meninos pretendentes a empregos parou uma animada conversa sobre o futebol. Afinal, Ela passava.
Vestido solto, cabelos longos, vermelhos.
Não caminhava, desfilava.
Os pequenos aspirantes a boys, tomados pela cena, aplaudem animadamente sua passagem.
- Parabéns, doutora! Derramam-se num coro.
Ela recebe o elogia meio desconfiada mas sorri discretamente. Era sincero.
Desse povo vêm os verdadeiros elogios, já diziam em Madureira.
Firma o passo de princesa e sente o frescor do vento subir pelas pernas sem meias, nem peças íntimas.
Chega à sua mesa, pega o telefone e faz uma ligação.
- Tudo certinho? Preenche o espaço com sua voz.
Ele, do outro lado, responde que sim com carinho.
Ela senta, relembra a noite anterior, a manhã, e tem a súbita vontade de transar com ele na escada de emergência do prédio.
- Pena você estar tão longe... Suspira.
Ele não entende. Gosta, mas não imagina o desejo.
Ela se recompõe, manda beijos e se entrega ao dia, esperando pela noite.
Tinha o poder.
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