sexta-feira, outubro 15, 2004

Sempre às Sextas: Taxista

de José Paulo Antunes

Enquanto a voz de Cartola, saindo do radinho de pilha, confortava a noite chuvosa do taxista Josué, ele buscava por passageiros em ruas do subúrbio do Rio. Tarefa nada fácil quando seus vidros estão embaçados pela chuva e os bracinhos modestos de passageiros em potencial se escondem embaixo de marquises para não se molhar.
Na rua desde às 7 da manhã, naquela altura do campeonato, Josué já esquecera um pouco da profissão. "Passeava" pelas ruas, pensando - na morte da bezerra?! - e idealizando a sua caminha quente e aconchegante... zzZZZzzz... Acorda!
Era nessa hora que ele pensava na "patroa", e seus 3 filhos, esperando por ele. Ela, queria uma bolsa nova, o mais velho, precisava de livros pra faculdade. Enfim, precisava fazer dinheiro.
E lá iam seus olhos de lince, buscando polegares desesperados por transporte "sequinho".
"Que dia é hoje?! Segunda-feira?! Engraçado... Tem pouco movimento. Será que é feriado?! Dia de algum santo?! Ah, mas santo no Rio, só São Sebastião. Nome engraçado, Sebastião... zzZZZzzz..." Acorda!
"Ô Josué?! Que está havendo contigo hoje?! Nem bebeu e tá nessa preguiça toda. Nem parece macho pô! Só por causa desse friozinho, você fica aí pensando em café, cama, cobert... zzZZZzzz..." Bruuummm!!!
E lá se foi o táxi de Josué, adentrando os tapumes - de uma obra de rua - que entraram em seu caminho.
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