domingo, agosto 20, 2006

Contatos Imediatos

Numa aparente displicência ela leva a vida, traindo-se numa não menos aparente naturalidade. O olhar não revela os delírios íntimos. Mantém-se firme, com a ponta do lindo nariz indicando o rumo.
Do outro lado, ele prossegue numa rotina com a mesma aparente naturalidade.
Ah, as aparências. Que seria de todos sem as máscaras?
Fullana estampa a sua de bem sucedida. Na vida e no amor. Máscara que só retira no silêncio do leito.
Silêncio ardente de recordações. Pensa nele. Sente seu gozo por todo o corpo. Cabelos, boca e seios. O ventre se dilata para recebê-lo numa visita silenciosa que não se concretiza. Adormece.
Distante dali ele agoniza nas mesmas fantasias e sente o gozo de Fullana nas mãos, na boca, no falo. Tão intensa fora a realidade que confunde-se nos devaneios de desejo. Adormece sentindo o tempo passar.
Distância que não separa. Desejo que não acaba. Desafiando a invencibilidade do tempo que persiste tentando apagar as marcas.
Talvez o mesmo tempo ocupe-se de retirar as máscaras e apagar as digitais, tornando-os atores sem papel. Nus de si mesmos.
E então poderão casualmente entrar num elevador juntos e olharem-se com naturalidade sem revelar contatos silenciosos que o tempo ou o olhar dos comuns fossem capazes de captar.
Engano.
Olhares atentos poderiam perceber, no brilho dos olhos deles, que ainda pensam um no outro.
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